Quem
foi Edgar Cayce?
A cada
ano, milhares de pessoas, no mundo inteiro,
descobrem a vida e a obra de um homem que foi
semelhante a tantos outros em muitos sentidos:
esposo amoroso, pai de dois filhos, fotógrafo
apaixonado, catequista fervoroso e um
aficcionado por jardinagem; mas que se
destacou por seu talento psíquico, um dos
mais vastos e confiáveis de todos os tempos.
Este homem se chamava Edgar Cayce.
Durante quarenta e três anos, efetuou “leituras”
num estado de sono auto-hipnótico, com a
finalidade de ajudar as pessoas.
Deitava-se em um sofá, cruzava as mãos
sobre o plexo solar e entrava em transe.
Então, bastava indicar-lhe o nome de
alguma pessoa e o lugar em que esta se achava,
onde quer que fosse, para que pudesse falar
dela e responder às perguntas que se lhe
fizessem acerca da mesma.
Cayce geralmente dissertava com sua voz
habitual; uma estenografa anotava o que se
dizia na sessão, datilografava em seguida,
enviava o original ao interessado e arquivava
uma cópia.
Hoje
em dia, a A.R.E. (Association for Research and
Enlightenment, Inc.) ,
associação criada por Edgar Cayce em 1931 em
Virginia Beach, Virginia, coloca à disposição
do público, em sua biblioteca,as 14.306
leituras realizadas por Cayce, às quais se
agregaram os testemunhos, comentários e
acompanhamentos.
Essas leituras representam o maior
conjunto conhecido de documentos psíquicos
oriundos de uma mesma fonte.
A A.R.E., que só tinha algumas
centenas de membros quando Cayce faleceu em
1945, é atualmente uma organização de
envergadura mundial.
Permite que muitas pessoas transformem
suas existências graças à obra deste homem
simples que manifestou excepcionais faculdades
psíquicas.
~
Edgar Cayce nasceu perto de
Hopkinsville, no Estado de Kentucky, em 18 de
março de 1877.
Sendo o mais velho de cinco filhos, foi
criado com suas quatro irmãs no ambiente da
vida rural do fim do século XIX, rodeado de
seus avós, tios e primos, que residiam nos
arredores.
Dizia brincar com pequenos companheiros
invisíveis, que foram desaparecendo à medida
que crescia.
Naquela época, grande parte do país
experimentava um renascimento religioso cujo
fervor podia explicar, ao menos parcialmente,
a profunda atração de Edgar pela Bíblia e
seu sonho de chegar a ser um médico missionário.
Nessa idade, ninguém teria suspeitado
que esse sonho se concretizaria de modo
singular.
Aos seis ou sete anos, contou a seus
pais que tinha visões sobrenaturais e que
falava com seu falecido avô, mas não foi
levado muito a sério, pois achavam que se
tratava de frutos de uma imaginação
demasiado fértil. Edgar refugiava-se na leitura da Bíblia, o que lhe dava
tanta satisfação que resolveu ler as
Sagradas Escrituras do inicio ao fim uma vez
para cada ano de sua vida.
As historias e os personagens bíblicos
ocuparam assim um lugar privilegiado em sua
existência.
Aos treze anos, teve uma experiência
que o marcou para sempre: a aparição de um
ser angelical, uma bela dama, que lhe
perguntou o que ele mais desejava.
Edgar respondeu que desejava ajudar os
outros, em particular as crianças doentes.
Logo em seguida percebeu que lhe era
possível memorizar seus livros escolares
dormindo um pouco sobre os mesmos, uma
capacidade que já não podia ser atribuída a
uma imaginação excessiva.
Sem os ter lido previamente, era capaz
de dormir sobre livros ou documentos de
qualquer tamanho ou grau de complexidade e, ao
despertar, podia descrever com exatidão o seu
conteúdo.
Esta habilidade o ajudou nos seus
estudos, mas foi aos poucos se desvanecendo.
A fim de ajudar os pais economicamente,
Edgar abandonou a escola aos dezesseis anos e
começou a trabalhar com um tio na fazenda de
sua avó.
No ano seguinte, a família se instalou
em Hopkinsville. Edgar encontrou emprego em uma livraria.
Alguns meses mais tarde, conheceu
Gertrude Evans, por quem se apaixonou.
Em 14 de março de 1897, quatro dias
antes de completar vinte anos, se comprometeu
com ela.
Ambos decidiram casar-se quando ele
tivesse os recursos necessários para comprar
uma casa.
Edgar perdeu seu emprego em junho de
1898 e passou a ser vendedor de uma grande
loja. Em
breve mudou-se para Louisville, uma cidade
comercial de Kentucky onde havia conseguido um
emprego melhor remunerado em uma importante
livraria.
No Natal de 1899, voltou a Hopkinsville
e se associou a seu pai, Leslie Cayce, que na
época era agente de seguros.
Edgar começou a viajar de cidade em
cidade, vendendo seguros e livros.
Em 1900, aos vinte e três anos, quando
sua situação econômica já lhe permitia
vislumbrar um casamento próximo, perdeu a voz
depois de haver tomado um sedativo. No principio não se inquietou, acreditando que o problema
seria passageiro.
Como persistiu, consultou médicos e
especialistas, que não conseguiram curá-lo. Incapaz de expressar-se mais alto que um murmúrio,
demitiu-se do emprego e procurou outro que não
lhe exigisse falar muito.
Em Hopkinsville lhe ofereceram um
trabalho perfeito para a sua situação,
aprendiz de fotógrafo.
E, mesmo que seu problema fosse incurável,
estaria perto de Gertrude e de sua família.
Frequentemente lamentava não haver
podido continuar estudando para ser médico ou
pregador. Confortava-se lendo a Bíblia e se alegrava com a expectativa
de casar-se e de ter filhos.
Naquela época, o hipnotismo e os espetáculos
teatrais eram muito populares.
Um hipnotizador ambulante que se fazia
chamar “Hart”, “o rei da risada”
chegou ao teatro de Hopkinsville com seu
programa de comédia e hipnotismo.
Hart fazia sucesso e era muito
conhecido.
Ao inteirar-se do problema de Edgar,
aceitou tentar curá-lo.
Na primeira sessão, Hart o hipnotizou
e lhe sugeriu que iria recuperar a voz.
Para assombro dos presentes, Edgar
respondeu com um tom de voz normal às
perguntas que lhe fizeram.
Porém, sua mente não aceitou a sugestão
pós-hipnótica de continuar falando
claramente depois da sessão.
Hart repetiu a tentativa em várias
ocasiões, obtendo sempre o mesmo resultado:
adormecido, Edgar se expressava perfeitamente;
desperto, voltava ao murmúrio anterior.
Os jornais locais publicaram a noticia,
e quando Hart foi embora da cidade, muita
gente ficou convencida de que o hipnotismo era
de alguma forma, a solução para o problema
de Cayce.
Sabendo que certos pacientes sob
hipnose mostravam faculdades de vidência, um
especialista de Nova York, interessado no
caso, aconselhou que se repetisse a experiência,
mas, desta vez, pedindo a Edgar que comentasse
seu próprio problema, ao invés de apenas
sugerir-lhe que recuperasse a voz.
Seus pais se opuseram porque ele se
havia debilitado fisicamente desde o inicio
das sessões com Hart, como se estas lhe
tivessem tirado energia do corpo.
Gertrude não interveio, deixando que
seu noivo escolhesse por si só, já que Edgar
gostava de fotografia e que, de um modo ou de
outro, poderiam levar uma vida feliz juntos.
Cayce decidiu submeter-se a uma última
tentativa sob a supervisão de um autodidata
local, Al Layne, que praticava a hipnose e
fazia cursos de osteopatia por correspondência.
Resolveu também entrar num estado similar ao
que lhe permitia memorizar seus livros de
escola na sua adolescência.
Quando estava adormecido, Layne lhe
perguntou qual era a causa de seu problema e a
maneira de curá-lo. Cayce respondeu!
Definiu o problema como um transtorno
psicológico que produzia um efeito físico e
recomendou que, enquanto estava inconsciente,
fosse sugerido que intensificasse a circulação
sanguínea nas áreas afetadas.
Layne respeitou as instruções.
Pôde-se observar como a parte superior
do peito e a garganta de Edgar ficaram de cor
escarlate e quentes ao tato.
Edgar permaneceu uns vinte minutos
assim, em silencio; logo pediu que, antes de
despertar, lhe dessem a ordem de regularizar a
circulação sanguínea.
Layne seguiu estas indicações e,
desperto Cayce se expressou perfeitamente,
curado da doença que já durava um ano.
Assim, nesta data, 31 de março de 1901, Edgar
Cayce fez sua primeira leitura psíquica.
Tanto ele como seus pais e Gertrude se
regozijaram com este desenlace inesperado.
Agora, sua meta era estabelecer-se no
ramo da fotografia e se casar.
Cayce não deu muita importância ao
seu dom extraordinário, mas Layne ficou
impressionado com o fenômeno que presenciou.
Há muitos anos Layne sofria de problemas gástricos
que os médicos não conseguiam curar, e lhe
ocorreu solicitar uma “leitura” a esse
respeito.
Estava seguro de que seus conhecimentos
médicos lhe fariam identificar qualquer
sugestão terapêutica mencionada por Cayce
que pudesse ser prejudicial.
Apesar de seu ceticismo, Cayce
concordou, pois se sentia em divida com Layne
por ele ter lhe ajudado a recuperar a voz.
A leitura se realizou de forma análoga
à anterior.
Adormecido, Edgar descreveu a afecção
em detalhe e recomendou certas ervas
medicinais, um regime alimentar e exercícios
físicos.
Em uma semana, Layne melhorou tanto que
ficou ainda mais entusiasmado com a faculdade
de Cayce.
Edgar relutou em prosseguir, porque não
entendia o fenômeno nem conhecia nada de
medicina. Seu maior desejo continuava a ser
apenas casar-se, ter filhos e levar uma vida
tranqüila.
Porém Layne lhe repetia que seu
talento era benéfico, e ele tinha a
responsabilidade moral de usá-lo para o bem
da humanidade.
Finalmente, depois de muito dialogar em
família, orar e examinar a Bíblia, Edgar
decidiu continuar, colocando duas condições:
se algum de seus conselhos resultasse
perigoso, as leituras seriam imediatamente
interrompidas; queria também que as pessoas
envolvidas se lembrassem que ele era apenas um
fotógrafo.
Uma das primeiras leituras foi para uma
menina de cinco anos de idade chamada Aime
Dietrich, gravemente enferma desde os três
anos de idade.
Como seqüela de uma gripe, seu cérebro
havia cessado de se desenvolver e convulsões
freqüentes sacudiam seu pequeno corpo.
Apesar das consultas a eminentes médicos
e especialistas, suas condições só
pioravam.
Layne conduziu a leitura e anotou o que
Cayce disse durante o transe.
Cayce disse que o problema havia
surgido, na verdade, alguns dias antes da
menina se resfriar, quando ela havia lesionado
a coluna vertebral ao descer de uma carruagem
(acidente confirmado pela mãe); os germens da
gripe haviam se alojado na parte traumatizada
da medula, provocando as convulsões.
Edgar recomendou que Layne fizesse
determinadas manipulações osteopáticas.
Em uma leitura de controle, indicou que
as manipulações não tinham sido feitas da
forma correta, e deu novas instruções. Depois de várias tentativas, atingiu-se o objetivo.
Em poucos dias, Aime chamou pelo nome
uma boneca com a qual brincava antes de ficar
doente. Em
seguida reconheceu outros objetos e também a
seus pais.
As convulsões desapareceram por
completo.
Em menos de três meses, a menina
estava absolutamente normal e transbordava de
saúde.
Ainda que Cayce se alegrasse por poder
ter sido útil, continuava sonhando em ter uma
existência tranqüila.
No entanto, o entusiasmo de seu pai, de
Layne, e de outras pessoas, como os pais de
Aime, tornava cada vez mais difícil
concretizar seu desejo. Assim, Edgar continuou
dando leituras gratuitas sob a supervisão de
Layne. Logo
descobriram que bastava a Edgar saber o nome e
a localização de uma pessoa para descrever
seu estado de saúde, diagnosticar seus males,
prescrever um tratamento e responder às
perguntas que fossem feitas.
Embora as leituras o perturbassem, pois
raras vezes compreendia seu significado ao ler
as notas de Layne, nunca se esquecia de
agradecer a Deus quando essa faculdade lhe
permitia socorrer alguém.
Naquela época, Edgar residia em
Bowling Green, a cerca de cem quilômetros de
Hopkinsville, e trabalhava em uma livraria.
Layne ia vê-lo todos os domingos a fim
de obter leituras para seus pacientes.
Em 17 de junho de 1903, depois de um
noivado de mais de seis anos, Gertrude Evans e
Edgar Cayce finalmente se casaram.
Edgar não se acostumava com as
leituras, mas sua vida estava indo bem: tinha
uma esposa amada, uma casa, um emprego bem
remunerado, e dava aulas de catecismo. Um ano mais tarde, montou um estúdio fotográfico com um sócio.
Graças a Cayce, Layne viu sua reputação
e sua clientela crescer tanto que resolveu
tornar-se um osteopata profissional.
Saiu de Hopkinsville e se matriculou
numa escola de osteopatia ao sul de Kentucky.
Edgar se enganava ao pensar que isto
poria fim às leituras.
Na verdade, havia despertado a
curiosidade de um grupo de médicos locais
que, num incidente lamentável, fizeram com
ele vários testes, alguns deles prejudiciais
à sua saúde, destinados a explorar a
natureza e origem de seus poderes psíquicos.
Cayce dedicava a maior parte de seu
tempo à fotografia, área na qual se
destacava, e seu estúdio prosperava.
Mas de repente se endividou quando um
incêndio destruiu uma importante coleção de
aquarelas e de reproduções que mantinha em
consignação.
Nove meses mais tarde, em mais um golpe
do destino, outro incêndio devastou o estúdio,
que foi reaberto duas semanas mais tarde,
sendo que Cayce assumiu sozinho todas as
perdas porque seu sócio desistiu do negócio.
Gertrude retornou a Hopkinsville com
Hugh Lynn, seu primeiro filho, nascido em 16
de março de 1907.
Edgar permaneceu em Bowling Green até
cobrir seu déficit.
Saiu de lá em agosto de 1909,
arruinado, e procurou emprego no Estado de
Alabama, onde os fotógrafos eram escassos.
No Natal visitou a família.
Seu pai o apresentou ao doutor Wesley
Ketchum, homeopata recém estabelecido na
cidade. Este
que soubera das leituras através de um dos
pacientes de Layne, pediu que Edgar lhe
fizesse uma demonstração. Sabendo
que tinha uma apendicite, já diagnosticada,
queria saber se Edgar seria capaz de detectá-la.
Cayce acusou um problema muito diferente de
uma apendicite e propôs um tratamento
simples.
A fim de ridicularizá-lo, Ketchum
consultou um outro médico, que confirmou as
declarações de Edgar. Assim, Ketchum acabou convencido da autenticidade das
leituras.
O doutor Ketchum começou a recorrer às
faculdades de Cayce para resolver seus casos
mais delicados.
Em 1910, enviou um informe para a ‘Sociedade
Americana de Investigações Clínicas’,
no qual qualificou Cayce como um prodígio da
medicina.
O resultado foi que em 9 de outubro, o
jornal ‘The New York Times’ publicou uma
grande reportagem intitulada: “Um
homem inculto se torna médico sob hipnose”.
Esta reportagem gerou uma grande quantidade de
solicitações para leituras provenientes de
todo o pais, e assim o doutor Wesley Ketchum,
Edgar Cayce, Leslie Cayce e Albert Noe, um
hoteleiro de posses, fundaram a ‘Psychic
Reading Corporation’ (Sociedade
de Leituras Psíquicas).
Edgar regressou a Hopkinsville, aonde
instalou um estúdio fotográfico, o ‘Estúdio
de Arte Cayce’. Diariamente, em suas
horas livres, realizava leituras psíquicas
sobre problemas médicos.
Não obstante, era muito mais feliz em
suas atividades como fotógrafo, e somente um
ano depois mudaria de atitude a respeito das
leituras.
Em certa ocasião, um rico empreiteiro
chamado George Dalton fraturou a perna e a rótula
em um acidente de trabalho.
Vários médicos lhe disseram que ele não
voltaria a caminhar normalmente devido à
gravidade dos danos na rótula.
Não satisfeito com o diagnóstico,
Dalton consultou o doutor Ketchum. Em uma leitura, Edgar aconselhou que a rótula fosse
recomposta com o uso de metal.
Tal procedimento era desconhecido na época,
mas o doutor Ketchum, confiando em Cayce, fez
a operação cirúrgica.
Em alguns meses, Dalton caminhava como
se não tivesse sofrido o acidente.
Gertrude e Edgar tiveram um segundo
filho em março de 1911, Milton Porter.
Poucos dias mais tarde o bebê
apresentou um quadro de tosse compulsiva e
colite. Apesar
da intervenção de diversos médicos, sua saúde
piorou. Os
médicos perderam toda a esperança de salvá-lo.
Cayce, então, fez uma leitura.
Disse que Milton Porter já estava
demasiado enfermo e que era tarde demais.
O neném morreu antes de completar dois
meses.
Cayce e sua esposa entraram em profunda
depressão.
Ele se culpava de não haver pensado
nas leituras desde o principio.
Isto talvez tivesse salvado a vida do
bebê; mas agora nunca saberia. Gertrude, por
sua vez, contraiu uma pleurisia que ficou
aguda com o passar dos meses e a obrigou a
ficar de cama.
No fim do verão, o médico de Gertrude
fez novo diagnóstico e informou a Edgar que
ela tinha tuberculose e estava morrendo.
Um especialista confirmou a terrível
realidade e todos, exceto seu marido, se
resignaram com sua morte iminente.
Edgar recorreu a uma leitura, que deu
esperanças, e recomendou que Gertrude tomasse
um determinado preparado farmacêutico e
descongestionasse os pulmões inalando os
vapores emanados de um pequeno barril de
madeira parcialmente cheio de conhaque de maçã.
Os médicos acharam que o remédio
seria inútil, mas Ketchum o receitou.
Em dois dias, a febre havia baixado e
Gertrude se sentia mais forte.
Seu estado continuou melhorando e, em
novembro, até os médicos se mostraram
otimistas.
Em Janeiro de 1912, Gertrude estava
quase totalmente restabelecida de sua doença.
Nesse mesmo ano, um médico da
Universidade de Harvard, o doutor Hugo Münsterberg,
chegou a Hopkinsville para pesquisar sobre o
talento psíquico de Cayce.
Tinha a firme intenção de destruir
sua reputação provando que era apenas um
charlatão.
Quando partiu, estava convencido da
legitimidade e eficácia das leituras.
Encorajou Edgar a continuar exercendo
seus dons tão fora do comum e que socorriam
tantas pessoas.
Cayce terminou sua sociedade com
Ketchum e Noe, e foi trabalhar como fotógrafo
em Selma, Alabama.
No ano seguinte, comprou o estúdio do
qual era gerente, e mandou buscar Gertrude e
Hugh Lynn.
Ali, pôde escapar de sua notoriedade
cada vez maior e reiniciar uma vida tranqüila
em família. Nesta época, seu filho teve os olhos severamente queimados
quando estava brincando no estúdio com pólvora
de magnésio antigamente usada para
“flash”.
Os médicos afirmaram que o menino não
recuperaria a visão e se pronunciaram a favor
da retirada de um dos olhos.
Dando uma leitura para o caso, Cayce
assegurou que Hugh Lynn não havia perdido a
visão; deveria permanecer em um quarto escuro
durante duas semanas, mantendo constantemente
sobre os olhos, uma compressa impregnada de
uma solução receitada pelos doutores, à
qual mandou agregar outro ingrediente.
Não houve intervenção cirúrgica, e
quando tiraram as compressas, o menino
enxergava! Os jornais locais publicaram o
fato, de modo que Cayce voltou a ser famoso e
recomeçou a ditar leituras além de se ocupar
do estúdio fotográfico.
Como em todas as outras cidades aonde
havia vivido, participava das atividades da
paróquia e ensinava catecismo.
Em 9 de fevereiro de 1918, Gertrude e
Edgar tiveram outro filho, Edgar Evans.
Com o número crescente de solicitações
para leituras, surgiu uma dificuldade: muita
gente não encontrava médicos dispostos a
observar as instruções de um homem que nem
sequer conheciam e que diagnosticava, em
transe, as enfermidades de pacientes que
frequentemente jamais havia visto. Cayce começou a pensar num hospital no qual médicos,
enfermeiros e terapeutas aplicariam os
tratamentos mencionados nas leituras.
O sonho de fundar um hospital o levou a
associar-se com algumas pessoas que buscavam
petróleo no Texas.
Edgar viajou para lá para realizar
leituras sobre possíveis locais para perfuração.
Construiu-se uma torre e se perfurou um
poço, mas nunca se alcançou o objetivo por
causa de múltiplos obstáculos que surgiram
ao longo da empreitada.
Ressaltando que as informações
oriundas das leituras não deviam ser
utilizadas com fins de lucro pessoal, as
leituras disseram que alguns dos sócios de
Cayce não compartilhavam de seus sonhos de
criar um hospital e só queriam enriquecer.
Depois desta tentativa decepcionante
que durou quatro anos, Edgar retornou a Selma.
Retomou a vida no ponto em que a havia
deixado, com sua esposa, seus dois filhos, seu
trabalho e sua função na Igreja.
Suas aulas de catecismo se tornaram as
mais populares da região, graças à
capacidade que tinha de dar vida aos
personagens e aos relatos bíblicos.
Em setembro de 1923, contratou Gladys
Davis como secretária para que transcrevesse
tudo o que era dito nas leituras que, naquele
tempo, eram conduzidas por Gertrude.
Até essa época, a informação psíquica
comunicada por Cayce tratava exclusivamente de
medicina.
Aí surgiu Arthur Lammers, um impressor
da cidade de Dayton, Ohio, apaixonado por
filosofia e metafísica, que pediu uma leitura
sobre seu horóscopo.
Na parte final da leitura, Edgar disse
que Lammers havia sido monge no passado,
introduzindo assim a hipótese da reencarnação
e abrindo a porta a novas perspectivas.
Esta leitura representou um dilema para
Cayce: ele não duvidava da utilidade e da
exatidão das leituras em matéria de saúde;
mas tal referencia direta à reencarnação
lhe parecia opor-se aos princípios cristãos
tradicionais. Rezou a respeito, consultou seu ser interior, efetuou
leituras, e releu a Bíblia toda, acabando por
admitir essa idéia. Desta maneira, foi adquirindo uma sublime visão da unidade
entre as grandes religiões do mundo, centrada
no cristianismo.
Edgar Cayce descobriu que o conceito de
reencarnação se baseia nas seguintes noções
filosóficas: a vida é eterna e tem um propósito;
tudo que existe emana de Deus e forma parte de
Deus; como almas, somos filhos do Criador e,
portanto, iguais; recebemos o livre arbítrio
e, um dia, escolheremos o caminho do altruísmo.
Cayce se deu conta de que a reencarnação,
compatível com qualquer religião, concordava
com seu próprio entendimento dos ensinamentos
de Cristo.
A partir deste momento, Edgar começou
a fazer leituras, não apenas sobre o corpo físico,
mas também sobre a mente e a alma,
mencionando as vidas anteriores das pessoas
que o consultavam e as repercussões de tais
experiências prévias nas suas encarnações
atuais. Estas
dissertações foram denominadas “leituras de vida”. Com
o tempo, a informação transmitida se
diversificou e abarcou uma ampla gama de
assuntos.
Entre outros, abordou preceitos mentais
e espirituais, pontos de vista inéditos
concernentes à psicologia e à
parapsicologia, conselhos para melhorar nossas
relações pessoais, a historia da Criação,
as civilizações desaparecidas e uma descrição
fascinante da vida de Jesus.
Sendo cada vez mais solicitado, Cayce
abandonou seu estúdio fotográfico a fim de
dedicar-se plenamente às leituras e de buscar
apoio financeiro para a edificação do
hospital.
Começou a aceitar doações, embora
nunca tenha se negado a ajudar aqueles que não
podiam pagar.
Devido ao indiscutível beneficio das
leituras, varias pessoas se ofereceram para
patrocinar o hospital com ele tanto sonhava.
No entanto, um grupo queria construí-lo
em Chicago, outro em Dayton, enquanto que as
leituras especificavam Virginia Beach ou seus
arredores.
Finalmente, Morton Blumenthal, agente
de cambio na bolsa de valores de Nova York,
concordou em financiar o projeto no lugar
indicado.
Em setembro de 1925, a família Cayce e
Gladys Davis se mudaram para Virginia Beach,
Virginia.
Em 1927, se fundou uma organização, a
‘Association of National Investigators, Inc.’
(Associação
de Investigadores Nacionais), para
analisar e experimentar a informação contida
nas leituras.
Seu lema era: “Manifestemos nosso amor por Deus e pela humanidade.” Um ano
depois, em 11 de novembro de 1928, inauguraram
o Hospital Edgar Cayce.
Os pacientes chegavam de todo o país,
desejosos de conseguir leituras e de ser
atendidos por uma equipe competente.
Nas leituras, Cayce diagnosticava as
enfermidades e prescrevia diversos métodos de
tratamento, desde uma modificação do regime
alimentício até uma intervenção cirúrgica.
Não favorecia nenhum ramo da medicina,
mas os recomendava todos, selecionando em cada
caso os mais adequados.
Em outubro de 1929, teve inicio a
grande crise econômica.
Apesar disto, inaugurou-se em 1930, com
orientação humanística, a ‘Atlantic
University’ (Universidade
Atlântica).
O hospital funcionou até fevereiro de
1931, quando teve de fechar e a organização
dissolveu-se, por falta de recursos
financeiros.
A universidade conseguiu sobreviver até
o Natal.
Em junho do mesmo ano, se criou a
A.R.E., ‘Association for Research and
Enlightenment, Inc.’ (Associação
para Pesquisa e Iluminação), com o
objetivo de estudar e de difundir as leituras
de Cayce.
A Associação se concentrou
essencialmente na medicina holística e na
cura espiritual; na reencarnação; nos sonhos
e sua interpretação; nos fenômenos psíquicos;
no poder da mente; na oração e meditação e
nos princípios filosóficos e espirituais.
Numerosas
pessoas que queriam desenvolver sua percepção
extra-sensorial se dirigiram a Edgar Cayce.
Ele geralmente respondia dizendo que
antes deveriam esforçar-se para elevar seu nível
de consciência, uma vez que o psíquico provém
da alma.
Ele assegurava que se cultivassem
valores espirituais, suas faculdades psíquicas
se acentuariam de maneira natural, segundo
suas necessidades e os motivos de sua presente
encarnação.
Cayce lhes explicava que, ao incorporar
os preceitos das leituras em suas crenças
religiosas ou filosóficas, e colocá-los em
prática, deveriam obter resultados
proveitosos; do contrario, seria melhor que
deixassem de lado a informação das leituras
e se esquecessem delas.
Com os anos, as aptidões psíquicas de
Cayce se ampliaram.
Em uma oportunidade, saiu correndo da
casa onde estava, totalmente angustiado porque
acabava de ver que três soldados jovens, em
quem estava pensando, não regressariam da
guerra. Também,
percebia as auras, definidas como o campo de
energia luminosa existente ao redor das cosas
vivas. Através
das mesmas, percebia o estado físico e
emocional das pessoas.
À medida que crescia sua reputação,
mais céticos chegavam a Virginia Beach com o
único propósito de acusá-lo de fraude.
Cedo ou tarde, todos se convenciam de
sua sinceridade e da autenticidade de sua
obra, e muitos lhe solicitavam leituras.
Um deles o escritor Thomas Sugrue, católico
fervoroso que tinha vindo com a intenção de
por em evidencia o que considerava uma
impostura, terminou escrevendo a biografia de
Cayce: “There is a River” (“Existe um
rio”), publicada em 1943 enquanto Cayce
ainda era vivo.
De modo similar, a revista ‘Coronet’,
sumamente popular naquela época, divulgou as
conclusões de sua pesquisa em um artigo
intitulado: “O homem milagroso de Virginia Beach”. Esta reportagem fez com que Cayce se tornasse mais famoso que
nunca.
Em plena segunda guerra mundial, Edgar
Cayce recebia uma volumosa correspondência
pedindo sua ajuda.
Aumentou o número de leituras diárias
para seis, ignorando suas leituras pessoais
que o exortavam a realizar um máximo de duas
por dia. Eram tantas as solicitações que era
preciso esperar dois anos até obter uma
leitura.
Na primavera de 1944, Edgar começou a
debilitar-se. Ainda que as leituras lhe aconselhassem repouso, ele se
sentia obrigado a continuar atendendo aos
pedidos de ajuda.
Finalmente, foi vencido pelo
esgotamento e, ditou sua ultima leitura para
si mesmo em setembro de 1944, 43 anos depois
da primeira, ocorrida em 1901.
Essa leitura lhe recomendava suspender
suas atividades; quando Gertrude perguntou por
quanto tempo, a resposta foi: “Até que se
recupere, ou morra.” Quase em seguida sofreu
um ataque de apoplexia e ficou parcialmente
paralisado. No fim do ano seus amigos temiam o
pior. Edgar
lhes disse que ficaria “curado” depois do
ano novo, mas eles entenderam que isto era, na
realidade, um anuncio de sua morte, a qual de
fato ocorreu em 3 de janeiro de 1945.
Até então ninguém havia percebido
que Gertrude, em seu generoso afã de ocultar
seus próprios problemas, estava seriamente
enferma.
Ela expirou três meses depois, no
domingo de Páscoa.
~
Enquanto os filhos de Cayce combatiam
na guerra, Gladys Davis se dedicou a arquivar,
classificar e catalogar a informação das
leituras que ela mesma havia, em grande parte,
anotado e datilografado com esforço e paciência. Concluiu o projeto em 1971, um quarto de século depois de
seu inicio! No
curso de seu trabalho, pode apreciar a
amplitude e a diversidade dos temas
mencionados nas leituras.
Estas cobrem cerca de dez mil assuntos
diferentes e respondem a quase todas as
perguntas imagináveis no tempo de Cayce.
Além de assumir essa considerável
tarefa, Gladys foi secretaria das organizações
vinculadas à obra de Cayce, até sua morte em
1986 aos oitenta e um anos.
Por sua parte, Hugh Lynn Cayce fez da
A.R.E. a sua carreira. Despertou o interesse de muitos nos conceitos holísticos das
leituras e no trabalho da Associação.
Quando faleceu, em 1982, o numero total
de membros da A.R.E. havia aumentado de
algumas centenas para dezenas de milhares.
Atualmente inúmeras pessoas no mundo
se beneficiam do legado de Edgar Cayce sobre
saúde, reencarnação, sonhos, percepção
extra-sensorial, meditação, crescimento
espiritual, estudo comparativo das religiões,
existência após a morte, astrologia,
profecias, problemas mundiais, e mais.
De onde provinha o saber comunicado nas
leituras?
Em geral, Cayce o adquiria de duas
maneiras distintas: entrando em contacto com o
subconsciente de quem solicitava as leituras;
e recorrendo aos “registros akáshicos”,
que ele chamava também de “o livro da memória
de Deus”, arquivos completos de todas as
almas desde sua criação, inscritos nas
coordenadas do espaço-tempo.
Tendo acesso às fontes universais de
conhecimento, Cayce era capaz de dissertar
acerca de qualquer assunto.
Hoje em dia, várias organizações
utilizam os dados psíquicos transmitidos por
Edgar Cayce em transe.
A A.R.E.,
‘Association for Research and Enlightenment,
Inc.’ (Associação
para Pesquisa e Iluminação),
é uma associação de envergadura mundial que
segue examinando e documentando os preceitos
das leituras.
Divulga os mesmos por meio de publicações,
conferencias e reuniões, assim como de
atividades educativas, culturais e sociais
para adultos e jovens.
‘Edgar
Cayce Foundation’ (Fundação
Edgar Cayce) é uma organização autônoma
legalmente responsável pelas leituras. Compara as noções transmitidas por Cayce com as procedentes
de outras tendências.
‘Atlantic University’ (Universidade
Atlântica), que havia fechado suas portas
em 1931, as abriu de novo em 1985; oferece um
programa de mestrado em estudos
trans-pessoais.
‘Cayce-Reilly
School of Massotherapy’ (Escola
de Massoterapia Cayce-Reilly)
forma massagistas e terapeutas segundo os
fundamentos holísticos das leituras. ‘A.R.E. Health Services
Department’ (Departamento
de Serviços de Saúde da A.R.E.) usa
estes conceitos em suas terapias naturais.
‘Health
and Rejuvenation Research Center’ (Centro
de Pesquisas sobre a Saúde e o
Rejuvenescimento) atende a pacientes e
aprofunda os assuntos médicos abordados por
Cayce, levando em conta os avanços da
medicina moderna.
A existência de todas estas organizações
atesta que a informação psíquica contida
nas leituras de Edgar Cayce, fotógrafo do
principio do século XX, oriundo do campo,
passou com sucesso no teste da intensa
investigação a que foi submetida durante
tantos anos.